Como e quando se inicia a exigência de monogamia?

Até aproximadamente 5 mil anos atrás, desconhecia-se o vínculo entre sexo e procriação. Não se sabia que o homem tinha alguma participação no nascimento de uma criança. A fertilidade era característica exclusivamente feminina. A ideia de casal era desconhecida. Cada mulher pertencia igualmente a todos os homens, e cada homem a todas as mulheres. O matrimônio era por grupos. 

Quando começaram a domesticar os animais, ou seja quando o ser humano se fixou na terra,perceberam que a ovelha desgarrada não produzia cordeiros, nem leite. Mas, se um ou dois carneiros eram introduzidos no rebanho, os resultados eram outros. Foi a grande descoberta do papel do homem na procriação. A ideia também cristalizou o senso de posse do homem, na medida em que o conceito de “meu filho” requeria que a mãe da criança estivesse ligada a um homem apenas. 

Nesse primeiro momento, a monogamia se instala somente para a mulher. É com o advento do cristianismo que a exigência de monogamia se estendeu ao homem. 

No século 12 a igreja tornou o casamento um sacramento e impôs seu modelo: casamento indissolúvel e monogamia. 

O amor romântico, surgido nessa época, foi uma grande novidade: desde o início do cristianismo até então o amor só podia ser dirigido a Deus. Passou a ser uma possibilidade no casamento, no século 19, após a Revolução Industrial, quando surgiu a família nuclear. Mas entrou para valer na vida a dois a partir de meados do século 20, incentivado pelos filmes de Hollywood, quando o casamento por amor se generalizou. 

Isso é visto como coisa do passado, mas não é. Ainda tem muita gente que se deixa controlar, desde que isso seja um bom motivo para controlar o outro. 

Muitos afirmam que as relações extraconjugais ocorrem por problemas na vida a dois. Mas, embora haja satisfação na maioria das relações estáveis, o sexo com outras pessoas ocorre principalmente porque variar é bom, e as pessoas sabem disso. Um relacionamento pode ser plenamente satisfatório, do ponto de vista afetivo e sexual, e mesmo assim haver a busca de outros parceiros. 

Para o psicoterapeuta inglês Adam Phillips, a infidelidade é o problema que é porque assumimos a monogamia como algo indiscutível, como se fosse a norma. Talvez devêssemos pensar na infidelidade como o que não precisa se justificar, assumi-la com uma naturalidade sem mortificações, para termos condições de refletir sobre a monogamia. 

O amor romântico idealizado, que traz a ideia de que duas pessoas vão se transformar numa só, tem seus dias contados. A busca da individualidade nos leva por um caminho oposto às propostas desse amor. 

É difícil harmonizar as necessidades individuais com uma vida a dois, e as pessoas não estão dispostas a sacrificar seus projetos pessoais. 

O grande dilema hoje se situa entre o desejo de simbiose e o desejo de liberdade, ou seja, o desejo entre monogamia e não monogamia. 

Talvez, daqui a algum tempo, menos pessoas estarão dispostas a se fechar numa relação a dois, e se tornará comum ter relações amorosas com vários parceiros ao mesmo tempo, escolhendo-os pelas afinidades. A ideia de que um parceiro único deva satisfazer todos os aspectos da vida, tem grandes chances de se tornar coisa do passado. 

Fonte: @cultrevista

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